Sobre perdas

Com certeza você perdeu algo que amava ou que queria muito. Um animalzinho, uma relação amorosa, um parente, uma vaga no emprego ou numa faculdade. E em qualquer uma das situações, você sofreu. Mais ou menos, mas sofreu. Pode ter sentido uma dor indescritível e, mesmo quando questionadx, você não soube colocar em palavras o que sente, pensa, deseja. Você pode ter sofrido uma (ou mais) perda que desarranjou todo o seu mundo, todo o seu universo de certezas, convicções. Até as suas incertezas podem ter sido postas em questionamento. Crise existencial. “Será que estou no caminho certo? Será que eu tenho sido uma pessoa boa, com caráter bom, alguém que fará a diferença aos outros? Será que minhas ações têm entrado em conflito com minhas convicções mais intimas? Será que eu estou, efetivamente, distribuindo amor, compaixão, alegria às outras pessoas, ao mundo?” E, dependendo do tipo da perda, você ainda pode levantar outras dúvidas: “Será que o sofrimento pelo qual tenho passado valerá a pena no futuro? Será que manter-se tão afastadx, fisica e mentalmente, de quem amo valerá a pena? Não há outras formas menos dolorosas de se atingir meu objetivo? Será que todo aquele tempo longe de quem se ama trouxe benefícios tão grandes a ponto justificar a falta, o afastamento?” E você ainda pode construir com sua imaginação fértil todos os “e se” possíveis, sonhando com as consequências das possibilidades que você teve ou que tem e com a mudança do passado. Ao mesmo tempo, sua dor continua e vai sendo alimentada por tais sonhos impossíveis de serem realizados já que ninguém (ainda) altera passado, por todas as vezes que você se lembra que a dor está ali, pronta para dar umas pontadas em seu coração, por todos os momentos que você insiste em relembrar (principalmente aqueles que antecederam a perda), por todos os arrependimentos que você teve ao analisar tudo o que aconteceu. Assim, ela vai crescendo, dificultando você sair da beira do abismo e até mesmo empurrando você a ele. Dor, lamentações constantes, sofrimento atraem mais energia negativa, mais dores, mais lamentações e mais sofrimento. E aposto contigo, amigx, que ninguém quer sofrimento: é inerente do ser humano a busca pela felicidade, sinônimo de saúde, de qualidade de vida.

Então, amigx, vamos nos esforçar para esquecer essa dor. Vamos deixá-la bem quietinha no nosso coração e em nossa mente, diminuindo seu espaço a cada dia que passa, até que restem somente as lembranças boas, as risadas, as brincadeiras, aqueles dias de paz, até que a dor vire saudade e que nos permita evoluir como seres humanos, tornando-nos pessoas boas, íntegras, éticas.

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